WEBER, MARX, DURKHEIM

WEBER, MARX, DURKHEIM
Pilares da Sociologia Clássica

sábado, 27 de novembro de 2010

A ÉTICA PROTESTANTE E O "ESPÍRITO" DO CAPITALISMO - MAX WEBER


Max Weber atenta para um fator freqüente na literatura e congressos católicos da Alemanha: O caráter protestante dos proprietários do capital e empresários e das camadas superiores da mão de obra qualificada, com alta qualidade técnica e comercial. Isso é perceptível não só onde ocorre a confissão religiosa ou há diferença de nacionalidade, mas também nas partes onde o capitalismo dividiu a sociedade em camadas sociais de acordo com as suas necessidades. Weber avalia a história pelo ângulo do desenvolvimento do capitalismo. Para ele o capitalismo é um espírito, uma mentalidade, que não busca simplesmente o lucro e o acúmulo de riquezas. Ele não tem a intenção de definir conceitualmente o significado de “espírito” do capitalismo, mas sim, delinear provisoriamente o seu entendimento como idéias e hábitos racionais que visam o lucro. E apesar dessa mentalidade capitalista sempre ter existido na China, na Índia e no Egito (por exemplo), as forças mágicas e religiosas formavam a “visão do mundo” e influenciavam a conduta, o que prejudicava a racionalidade econômica. O Ocidente, ao contrário do Oriente, possuía uma cultura onde o racionalismo era muito peculiar. Foi o Ocidente, o criador do instrumentalismo e da racionalização. Desenvolveu uma forma muito diferente de capitalismo, com a organização sistemática da mão-de-obra livre e a utilização da ciência e da tecnologia.
Para Weber, o espírito do capitalismo se desenvolveu sob dois aspectos: 1. Era necessário que houvesse homens de negócios e grandes capitalistas; 2. Também deveria haver operários qualificados, de alto nível e pessoal especializado (tecnologicamente e comercialmente). Esses componentes sociais coincidem no fato de serem majoritariamente protestantes. A porcentagem de protestantes ocupando os mais altos postos de trabalho nas empresas modernas era superior à porcentagem de protestantes na população total. A pertença a uma confissão religiosa não aparece como causa dos fenômenos econômicos, mas como conseqüência deles. O protestantismo se expande no século XVI pelas cidades mais ricas, causando efeito até hoje na luta econômica pela existência. A emancipação protestante baseia-se em duas razões: 1. À inclinação a duvidar da tradição religiosa; 2. À rebelião contra as autoridades tradicionais. Os reformadores, que surgiram nos países economicamente mais desenvolvidos, criticaram a insuficiência eclesiástico-religiosa da vida, pois a dominação católica era extremamente cômoda, tanto que mal se sentia na prática. Os países mais ricos e a classe burguesa emergente não só suportaram o regime de caráter “tirânico” protestante, como partiram em defesa dele.
O protestantismo ascético, principalmente o calvinismo, foi a força espiritual, o fator cultural que impulsionou o espírito capitalista no Ocidente. A doutrina Calvinista fundou uma moral individual e econômica favorável ao capitalismo e foi esta teologia que, segundo Weber, deu força e originalidade ao capitalismo ocidental. Ela se fundamenta no dogma da predestinação, onde o homem é salvo ou condenado de acordo com a vontade de Deus, vontade essa que é inquestionável e misteriosa. Só pela grava divina o homem pode ser salvo, porque todos pecaram e agora estão destituídos da glória de Deus. O homem tem que, em toda a sua vida, servir a Deus. Assim ele ganha a sua salvação, mas não a merece. Sendo os valores culturais um valor de mudança, os valores da doutrina da predestinação trouxeram algumas conseqüências que influenciaram a evolução do capitalismo: direcionou o crente para atividades econômicas, o trabalho deveria ser produtivo e contínuo (a preguiça era pecado), as crianças deveriam aprender a trabalhar desde cedo, em sua hora de descanso deveriam levar uma vida pura, sem provar dos prazeres mundanos e carnais. Assim o crente acumulava riquezas (que não eram para o seu bel-prazer) e ao invés de gastar, empregava-as em novas atividades econômicas e produtivas. O homem era apenas o administrador dos bens materiais na terra e ele deveria fazê-los frutificar. O calvinismo exibe um virtuosístico senso de negócios capitalistas que coincide às mesmas pessoas e grupos humanos, com as formas mais intensas de uma devoção que permeia e regula a vida toda e não é um caso isolado, mas a marca distintiva de grupos inteiros de igrejas e seitas protestantes historicamente da maior importância.
Existem alguns fenômenos causadores da maior participação dos protestantes na propriedade do capital e nos postos de direção na economia moderna: 1. A diferença no tipo de ensino superior que pais católicos e protestantes costumam proporcionar a seus filhos; 2. A porcentagem de católicos no ensino superior é inferior a sua porcentagem na população total. (A quantidade de católicos que saem do ensino superior nos estabelecimentos modernos destinados a se prepararem para uma vida de estudos técnicos – vida burguesa de negócios – fica muito atrás da dos protestantes); 3. O fato das fábricas contratarem mão-de-obra qualificada entre a nova geração de artesãos, delegando a eles a sua própria formação da força de trabalho, subtraída daí após a formação ser completada. E isso é mais freqüente entre os protestantes que entre os católicos. As razões desses fenômenos são questões mais internas que externas, ou seja, devem ser procuradas na peculiaridade intrínseca e duradoura da confissão religiosa e não na situação exterior histórico-política.
Para Benjamin Franklin, o excesso desnecessário de virtudes é um desperdício improdutivo condenável. Elas são consideradas virtudes na medida em que forem úteis ao indivíduo e basta a simples aparência, desde que preste o mesmo serviço. A moral de Franklin está constituída na ordem econômica moderna do ganho de dinheiro de forma lícita, resultante de habilidade na profissão. O ser humano em função do ganho como finalidade da vida e não o ganho em função do ser humano como satisfação de suas necessidades materiais. (Benjamin Franklin)
A idéia característica da ética social da cultura capitalista é a da “profissão como dever”, uma obrigação que o indivíduo tem em relação ao conteúdo de sua atividade profissional. Uma das características específicas dos países cujo deslanche capitalista-burguês se mantivera “em atraso” é a absoluta falta de escrúpulos na afirmação do interesse pessoal no ganho pecuniário. O tradicionalismo foi o primeiro adversário com o qual o “espírito” do capitalismo teve (e continua tendo) que lutar. As origens das reservas monetárias valorizáveis como capital, não é o fator mais importante para explicar as forças motrizes da expansão do capitalismo e sim, o desenvolvimento do “espírito” capitalista. Onde quer que ele se efetive, ele cria para si as provisões necessárias como meios de sua efetivação.
É provado com o passar do tempo e através das línguas em diferentes culturas que a palavra “vocação” foi ignorada entre os povos predominantemente católicos, ao passo que está presente entre TODOS os povos protestantes. Todo crente também deveria ter o mínimo de conhecimento, para poder ler a palavra de Deus. Dessa forma a ética protestante calvinista incentivava os seus fiéis a terem uma vida de trabalho que os fazia enriquecer. Não acreditavam em pensamentos mágicos e pregavam o autodomínio e valorizavam o conhecimento, o que impulsionou a organização racional da vida, do trabalho e das atividades econômicas. A valorização do cumprimento do dever no seio das profissões mundanas como o mais excelso conteúdo da auto-realizarão moral, é uma das coisas absolutamente novas. O homem deve agradecer a Deus não por suplantar a moralidade intramundana através da ascese monástica (praecepta et consilia) mas por cumprir com os deveres intramundanos, assim como decorrem da posição do indivíduo na vida, a qual por isso mesmo se torna a sua “vocação profissional”. A conduta da vida monástica é encarada não só como sem valor justificativo diante de Deus, mas também como produto de uma egoísta falta de amor e cumprimento com os deveres do mundo. O amor ao próximo é exteriorizado através do trabalho profissional mundano, em contraste às teses de Adam Smith, que apontam a divisão do trabalho social como agente da coação do indivíduo que trabalha para outros.

2 comentários:

  1. Sucinto,objetivo,o que facilta bastante a leitura completa de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.

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  2. Sucinto,objetivo,o que facilta bastante a leitura completa de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.

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