WEBER, MARX, DURKHEIM

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Pilares da Sociologia Clássica

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

DA SOCIEDADE PÓS- INDUSTRIAL À PÓS- MODERNA – MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE I – A IDÉIA DA PÓS-MODERNIDADE – K. KUMAR


Na analogia com modernidade, é possível reservar pós-modernidade para o conceito social e político mais geral, e pós-modernismo para seu equivalente cultural. Mas isso chocaria com o uso corrente, que se recusa a fazer uma distinção analítica tão nítida – se recusa, na maioria dos casos, a fazer qualquer distinção. O princípio da “realização” e o ethos do utilitarismo, por exemplo, poderiam dominar o sistema econômico, enquanto que, na família e no sistema de parentesco, “atribuição de qualidades” e expressividade teriam primazia. Na opinião de Talcott Parsons e seus seguidores – criticando de forma implícita nesse ponto os marxistas – era exatamente nessa diferenciação e separação de esferas que a sociedade moderna conseguia liberdade e flexibilidade. Não há, ou pelo menos não há mais, qualquer força controladora e orientadora que dê à sociedade forma e significado – nem na economia, como argumentaram os marxistas, nem no corpo político, como pensaram os liberais, nem mesmo, como insistiram os conservadores, na história e na tradição. Há simplesmente um fluxo um tanto aleatório, sem direção, que perpassa todos os setores da sociedade. As fronteiras entre eles se dissolvem, resultando, contudo, não em uma totalidade neoprimitivista, mas em uma condição pós-moderna de fragmentação. Se há um setor privilegiado entre os pós-modernos, parece que é o cultural. Talvez esse seja o motivo pelo qual, na literatura, encontramos com mais freqüência o termo “pós-modernismo” do que “pós-modernidade”. Isso sugere que o impulso para a teoria pós-moderna veio inicialmente da esfera cultural e que seu principal interesse era o modernismo cultural. Em seguida outros pensadores adotaram o termo levando a um círculo, cada vez mais amplo da vida social, rotulado de pós-moderno. O pós-fordismo figura também com grande destaque da teoria pós-moderna, sobretudo na ênfase que se dá à descentralização e dispersão e à renovada importância de local. Uma vez mais, porém, os pós-modernistas rejeitam o arcabouço marxista que, em geral, acompanha esse enfoque.
A teoria pós-moderna é tão chocantemente eclética em suas origens como é sintética e mesmo sincrética em suas manifestações. Temos aí uma das razões de sua popularidade. Mas essa também é a razão de submetê-la a teste ou analisá-la à maneira habitual ou mesmo de discuti-la criticamente. Estudos sérios da compatibilidade entre teoria e realidade são recebidos com um sorriso irônico. Contradição e circularidade, longe de serem considerados como falhas na lógica, são, em algumas versões da teoria pós-moderna, realmente louvadas. O pós-modernismo deve ser até certo ponto analisado em seus próprios temos pós-modernistas, de acordo com a maneira como ele mesmo se considera.
A ênfase em opção e pluralismo lembra também um dogma fundamental do pós-fordismo. Charles Jencks não deixa dúvida de que o pós-modernismo é principalmente uma reação ao modernismo cultural. Seu ecletismo constitui uma aceitação da tradição, ou pelo menos de tradições, e não, como acontece como modernismo, uma rejeição desafiadora das mesmas. Em vez da “tradição do novo”, há uma “combinação de muitas tradições”, “uma notável síntese de tradições”. “O pós-modernismo é em essência a eclética mistura de qualquer tradição com a do passado imediato: é tanto uma continuação do modernismo quanto sua transcendência.” (Jencks)
O modernismo mantém um relacionamento complexo com a modernidade. Alguns de seus aspectos, como no dadaísmo e no surrealismo, parecem negar traços fundamentais da modernidade e antecipar-se ao pós-modernismo. Este se caracterizava pelo ecletismo e pluralismo, aquela divertida mistura e combinação de tradições. A era pós-moderna assinalava uma ruptura com a “era moderna” clássica, que durava aproximadamente da renascença até fins do século XIX. Em contraste com a crença no progresso e na razão da era moderna, a era pós-moderna caracterizava-se pelas crenças e sentimentos de irracionalidade, indeterminação e anarquia. Essas características estavam ligadas ao advento da “sociedade de massa” e da “cultura de massa” em nossa época. Para os defensores do modernismo, o pós-modernismo era uma capitulação ao kitch e ao comercialismo. Em seu populismo declarado, repudiava a austeridade e a integridade, a luta pelo objeto estético por si mesmo, que havia sido característica do alto modernismo. Outros autores viam no “antinomianismo” e “antiintelectualismo” do pós-modernismo, no seu hedonismo sem reservas, uma ameaça aos valores da cultura humanista, que havia mantido até então sob controle as correntes potencialmente desintegradoras da modernidade.  O mundo dos novos movimentos não era simplesmente pós-modernista, mas também pós-freudiano, pós-humanista, pós-protestante, pós-branco, pós-macho, além de vários outros pós. Ihab Hassan via no modernismo o princípio da autoridade e, no pós-modernismo, o da anarquia. Esse último implicava a tendência para a indeterminação, um composto de pluralismo, ecletismo, aleatoriedade e revolta.  O caráter antinomiano, anárquico, anti-sistêmico do pós-modernismo parece compatível com a forma e o espírito de muito do que entendemos como modernismo, em especial aquele seu aspecto associado à teoria e prática da avant-garde. Se escolhermos algumas correntes modernistas, poderemos descrever razoavelmente o pós-modernismo como uma reação contra a racionalidade e a funcionalidade tipicamente modernas de ambos. Martei Calinescu argumenta que o “antielitismo, o antiautoritarismo, a gratuidade, a anarquia e, por fim, o niilismo” estão claramente implícitos na doutrina dadaísta da “antiarte pela antiarte”.
Depois de perder seu élan revolucionário, o modernismo assume a sua forma pós-modernista, cuja essência (para Jean-François Lyotard) era a experimentação, a rejeição do conforto e do consolo do realismo e da arte representativa. O pós-modernismo representa a ruptura interminável com o passado, por mais radical que este tenha sido em sua própria época; é o que dá ao modernismo o seu significado. Ele não repudiava nem imitava o passado; recuperava-o e expandia-o para enriquecer o presente. Teóricos falaram da síntese ou hibridização do velho e do novo, a negação dialética do passado e seu aproveitamento em um novo plano pós-modernista que aceitava a presença do passado. O modernismo é para Frank Kermode uma questão de opostos que se reconciliam. O paleomodernismo cultivava o oculto; o neomodernismo negava-o; o modernismo inicial tendeu para o fascismo, o modernismo posterior para o anarquismo.
A cultura pós-moderna estaria ligada a alguma nova forma de sociedade, sendo pós-industrial o conceito geralmente preferido. O pós-moderno seria então para o pós-industrial o que a cultura é para a sociedade. O pós-modernismo é a cultura da sociedade pós-industrial.  Uma variante mais sofisticada, de procedência mais diretamente sociológica, não raro marxista, consiste em considerar o pós-modernismo a face cultural do capitalismo em seus estágios mais desenvolvidos. Para Daniel Bell ele é um simples prolongamento do modernismo, uma parte da cultura do capitalismo na era do consumo de massa.  Ele pode ser para a sociedade pós-industrial ou do capitalismo tardio o que o modernismo é para a sociedade industrial em sua fase moderna ou classicamente capitalista. O modernismo foi em geral uma reação cultural às principais correntes da modernidade. Em algumas de suas formas, teve o caráter de uma rejeição apaixonada. O mesmo não se pode dizer, contudo, da relação entre pós-modernismo e sociedade pós-industrial. Cultura e sociedade apenas na aparência são tratadas separadamente. Na realidade, elas se fundem uma na outra. A condição pós-moderna de Lyotard baseia-se na visão da sociedade na qual o conhecimento tornou-se a principal força de produção e a “computadorização da sociedade” é considerada como a realidade subjacente. “O pós-modernismo não é o elemento cultural dominante de uma ordem social inteiramente nova, mas apenas o reflexo e o concomitante de mais uma modificação sistêmica do próprio capitalismo.” Fredric Jameson ainda afirma que a cultura tornou-se um “produto por direito próprio”, o processo de consumo cultural não é mais simplesmente uma apêndice, mas a própria essência do funcionamento capitalista. No mínimo na fase do capitalismo tardio, ou pós-modernista, os dois termos (cultural e econômico) se fundem novamente e dizem a mesma coisa, em um eclipse da diferença entre a base e a superestrutura.
O pós-modernismo será interpretado como a cultura da sociedade pós-industrial. Mas Scott Lash fala em uma relação de compatibilidade ou de afinidade eletiva entre cultura pós-moderna e sociedade capitalista contemporânea. O capitalismo desorganizado inclui a maioria dos aspectos que examinamos antes sob os títulos de pós-fordismo e sociedade de informação. A nova burguesia pós-industrial disputa a primazia na sociedade com a velha burguesia do capitalismo organizado. Cultiva e promove sua própria cultura, a cultura do pós-modernismo, que não faz distinção entre elite e massa, entre alta e baixa.
Formas culturais modernistas dependeriam de um processo de diferenciação: o cultural do social, o estético do teórico (ou científico), o sagrado do secular, a ciência da religião. O pós-modernismo inverte essa situação. É resultado de um processo contínuo de dês-diferenciação, cujas ordens são encontradas nas mudanças sociais e culturais das décadas de 1950 e 1960. As distinções sociais, da forma exibida nas alegações da nova classe média, dependem cada vez mais não do poder econômico ou político, mas da exibição de símbolos culturais. A cultura, longe de manter sua distância ou ser apenas compatível com a sociedade capitalista pós-industrial, parece ter praticamente tomado conta da sociedade. Lash diz que o modernismo problematizou e desestabilizou a representação da realidade, ao passo que o pós-modernismo problematiza e desestabiliza a própria realidade. Ele introduz o caos, a inconsciência, a instabilidade em nossa experiência da própria realidade.
Parece que de fato estamos numa era na qual a cultura assumiu um poder extraordinário na vida social. Se essa situação está levando ou não a um novo tipo de sociedade, a uma sociedade pós-moderna, é algo ainda a ser verificado. Mas se quisermos estudar seriamente essas alegações, o melhor modelo pareceria ser algo que poderíamos chamar de antropológico. Falemos ou não de cultura pós-moderna, sociedade pós-moderna, devemos supor que estamos tratando de uma maneira completa de pensar, sentir e agir: de cultura, como os antropólogos entendem geralmente a palavra. O pós-modernismo aparece como um atributo de todos os aspectos da sociedade, e parece imprudente, pelo menos de início, privilegiar uma parte como causa ou determinante.
A maioria dos teóricos afirma que as sociedades contemporâneas demonstram em novo ou reforçado grau de fragmentação, pluralismo e individualismo. As instituições e práticas típicas da nação-estado são correspondentemente debilitadas. Os partidos políticos de massa cedem lugar a novos movimentos sociais. As identidades coletivas de classe e experiências compartilhadas de trabalho dissolvem-se em formas mais pluralizadas e específicas. A idéia de uma cultura e de uma identidade nacionais é atacada em nome de culturas minoritárias (as culturas de grupos étnicos, de seitas religiosas e comunidades específicas, baseadas em idade, sexo ou sexualidade. O pós-modernismo destaca sociedades multiculturais e multiétnicas. Promove a política da diferença. A identidade não é unitária nem essencial, mas fluida e mutável, alimentada por fontes múltiplas e assumindo formas múltiplas. A sociedade pós-moderna é, portanto, bem congruente, se não idêntica à sociedade pós-fordista, à sociedade de informação e ao capitalismo tardio ou desorganizado encontrado em algumas teorias. O que torna o pós-modernismo tão diferente como enfoque é que ele transcende esses aspectos conhecidos para fazer alegações abrangentes e sobre a própria natureza da sociedade e da realidade objetiva. Faz afirmações não só sobre a nova sociedade ou a realidade social, mas sobre nossa maneira de compreender a própria realidade.
Na situação que Jean Baudrillard chama de “êxtase da comunicação”, o mundo torna-se puramente um mundo de simulação. A geração através de modelos, de um real sem origem ou realidade: um hiper-real. Na hiper-realidade não é mais possível distinguir o imaginário do real, nem o signo de seu referente, e ainda menos o verdadeiro do falso.  Umberto Eco diz que “a imaginação americana exige a coisa real e, para consegui-la, tem que fabricar o falso absoluto. A Disneylândia é a apoteose do hiper-real, ao mesmo tempo absolutamente realista e absolutamente fantástica, de um mundo de fantasia mais real do que a própria realidade. O estado de hiper-realidade significa não só a dissolução da realidade objetiva, de algo que existe e ao qual se referem os signos e as imagens. Significa também a dissolução do sujeito humano, o ego individual que a modernidade julgou ser o pensador autônomo e o ator no mundo. O fenômeno do hiper-real é ilegitimamente expandido para incorporar a totalidade da vida social.
Para Michel Foucault não é o homem, o sujeito conhecedor que deve ser o fundamento das ciências humanas. O que precisa ser estudado são as práticas discursivas das ciências humanas, que constituem e constroem o homem.
Não é difícil ligar pós-estruturalismo e desconstrucionismo à teoria social da pós-modernidade. Eles aceitam a ênfase geral da fragmentação e pluralismo e na ausência de qualquer força centralizadora ou totalizadora, que constitui um aspecto característico de todas as teorias de pós-modernidade. A dissolução desconstrucionista do sujeito tem paralelo – seja como causa ou efeito – na dissolução pós-moderna do social: não no sentido de negar a sociedade como tal, mas em negar-lhe poder como coletividade corporificada. A democracia tem de se adaptar a esse pluralismo irredutível – abandonando a idéia de política consensual, no mínimo, ou a opinião de que o Estado nacional soberano é a única arena da política. No seu ceticismo radical, na ânsia em desconstruir e dissolver tudo, no seu caráter fundamentalmente antimessiânico e antiutópico, o pós-estruturalismo liga-se diretamente a um dos dogmas centrais da pós-modernidade, a incredulidade diante das metanarrativas. Este é um dos atributos mais conhecidos e em geral mais aceitos da teoria pós-moderna, que unifica aquilo que, de outra maneira, seria uma série irremediavelmente difusa e dispersa de proposições.
Com menos clareza e também com menos otimismo, há pensadores que definem a condição pós-moderna como ainda presa a um princípio industrial predominantemente moderno de desempenho. Eles não hesitam em falar na sociedade pós-industrial e na pós-modernização das economias políticas contemporâneas. Eles indicam o crescimento de um alto grau de reflexividade, ou autoconsciência, entre as populações das sociedades industriais contemporâneas, a um ponto em que ela está criando novas possibilidades de relações sociais em uma larga variedade de esferas – em relações íntimas, amizade, trabalho, lazer e consumo.
É uma provocação perigosa ser pós-modernista, pelo menos nos círculos acadêmicos. Há muito mais livros e artigos dizendo-nos o que está errado com a teoria pós-moderna do que declarações ao seu favor – ou mesmo, aliás, dizendo-nos claramente o que ela é. O pós de pós-modernidade refere-se não tanto a um novo período ou sociedade chegando após a modernidade quanto à opinião sobre a modernidade possível após o término da modernidade – ou, pelo menos, quanto dela poderia ser completada em seus próprios termos. A pós-modernidade significa que a modernidade pode ser agora examinada como num espelho retrovisor. 
A condição pós-moderna é modernidade emancipada de falsa consciência. Em especial, os intelectuais compreendem agora que seu papel não pode ser o de estabelecer regras e padrões absolutos para a sociedade, de acordo com alguma idéia sobre princípios universais de verdade e razão. O pós-modernismo é uma oportunidade, uma abertura para novas possibilidades que sempre estiveram latentes ou eram inerentes à modernidade. Ele expressa uma crise no modernismo, mas não significa o seu fim nem o fim da modernidade. Pelo contrário, ele lançou uma nova luz sobre o modernismo e apropriou-se de suas técnicas e estratégias para suas próprias finalidades.

Um comentário:

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