WEBER, MARX, DURKHEIM

WEBER, MARX, DURKHEIM
Pilares da Sociologia Clássica

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O 18 BRUMÁRIO DE LUÍS BONAPARTE - KARL MARX


             Publicado em 1952, o texto descreve um golpe de Estado recém-ocorrido na França. Carlos Luís Napoleão Bonaparte, eleito presidente do país em 1848, resolveu impor uma ditadura três anos depois. A data escolhida para o golpe foi 2 de dezembro de 1851, aniversário de 47 anos da coroação de seu tio, o general estadista Napoleão Bonaparte, como imperador da França. A ironia de Marx está presente até no título do livro. Anos antes de se tornar imperador, o primeiro Napoleão também havia dado um golpe de Estado, em 9 de novembro de 1799, com o qual se tornou cônsul da França. No curioso calendário que o país havia adotado após a revolução de 1789, essa data correspondia ao dia 18 do mês de brumário. Ao chamar a obra de O 18 Brumário de Luís Bonaparte, Marx indica que o golpe dado por Napoleão III era apenas uma cópia daquele que fora dado antes por seu célebre tio.
            O que Marx fez de mais revolucionário, não foi olhar para essas “coincidências” históricas, mas perceber, analisando aqueles fatos que haviam acabado de acontecer, que “os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”. Ou seja, apesar de serem atores da história, as pessoas só são capazes de agir nos limites que a realidade impõe. Para Marx, o motor da história é a luta entre as classes sociais, responsável por produzir as transformações mais importantes. De um lado, estão sempre os dominadores. De outro, sempre os dominados. Os primeiros são os que detêm os “meios de produção” (terra, propriedade privada, máquinas, indústrias, etc.). Já os segundos são aqueles que só possuem a própria força de trabalho e que, para sobreviver, são forçados à servidão. Na Antiguidade, esse ponto tinha pertencido aos escravos. No feudalismo, aos servos. Já no capitalismo, essa classe é formada pelos trabalhadores assalariados – o chamado proletariado, que vende sua força de trabalho para a burguesia. A distribuição injusta de poses, observada por Marx, opunha burgueses e proletários.
            Para muitos pensadores do século XIX, a Revolução Francesa era a grande referência, por ter marcado a posição da burguesia no grande jogo. Essa classe social já tinha sido revolucionária, quando seus interesses econômicos, que se expandiam pelo menos desde o fim da Idade Média, encontraram no parasitismo da nobreza um enorme empecilho. Ao derrubar a monarquia, a burguesia foi se transformando aos poucos, em toda a Europa e depois no resto do mundo, na nova classe dominante. Assim, deixou de ser revolucionária e se tornou conservadora, preocupada em manter a ordem vigente. Depois da ascensão da burguesia, o proletariado tomou o seu lugar como classe oprimida e, portanto, potencialmente revolucionária. Nessa nova situação, ficou ainda mais claro que todo processo de acumulação de riqueza exige, para se concretizar, uma usurpação. Para que existam ricos, é necessário que existam pobres – esse é, simplificadamente, o raciocínio que Marx aplica a toda a história.
            Marx descreve toda a estratégia política, militar e institucional da burguesia francesa como um processo em que ela toma para si algo que, supostamente, deveria ser de todos: o Estado. Se Napoleão Bonaparte tinha imposto um Estado forte, imperial e expansionista, ele o fez não em benefício do povo, mas a serviço de uma só classe, a burguesia. Essa havia sido a “tragédia”. A “farsa” veio quando Luís Bonaparte, com um golpe de Estado, se transforma em Napoleão III. Para conseguir o poder, ele foi beneficiado por alianças entre partidos burgueses – o que, segundo descreve Marx, significou trair as lideranças proletárias e tirá-las do governo.
            O 18 Brumário de Luís Bonaparte descreve a democracia como um imenso tabuleiro, em que os interesses de diferentes classes são manipulados sob o mecanismo de representação do povo por políticos – uma fórmula normalmente tida como justa. Depois de ler o livro, é difícil deixar de perceber que essa forma de governo, presente até hoje, oculta uma imensa engenharia de pequenos acordos. Olhando desse modo, as repúblicas modernas, aparentemente legítimas, serviriam apenas aos burgueses.
            Entre 24 de fevereiro de 1848 a dezembro de 1851, a França passa por três fazes a destacar: 1. Período de Fevereiro (24/fev a 4/maio/1848); 2. Período da Constituição da República ou Assembléia Nacional Constituinte (1/maio/1848 a 28/maio/1849); 3. Período da República Constitucional ou Assembléia Nacional Legislativa (República Parlamentar). O objetivo inicial do primeiro período era o de uma reforma eleitoral que proporcionasse privilégios políticos aos membros da classe possuidora e derrubasse os privilégios tidos como exclusivos da aristocracia financeira. Tudo tinha um caráter provisório, com as seguintes características: efetiva incerteza e imperícia; aspirações mais entusiastas de inovação e um domínio mais arraigado da velha rotina; maior harmonia aparente em toda a sociedade e mais profunda discordância entre seus elementos. O segundo período ficou marcado pelas lutas travadas entre o proletariado e todas as outras classes sociais: república burguesa, aristocracia financeira, burguesia industrial, classe média, intelectuais, clero e população rural. Esse período firma o “Partido da Ordem”, congregado por todas as classes e partidos contra a classe operária, considerada anarquista, socialista e comunista.
            A “Insurreição de Junho” é considerada o acontecimento de maior envergadura na história das guerras civis na Europa. Cerca de 3.000 insurretos foram massacrados e 15.000 foram deportados sem julgamento. O movimento perde força, por conta das vítimas dos tribunais e de figuras equivocadas que assumem a sua direção.
            “Propriedade, Família, Religião e Ordem” são senhas e palavras de ordem da velha sociedade, que é salva sempre que se constrói o círculo de seus dominadores e um interesse exclusivo se impõe ao mais amplo. Toda reivindicação é castigada como um atentado à sociedade e estigmatizada como socialismo. Aos poucos os pontífices da “Religião e da Ordem” são arrancados do seu leito, seu templo é totalmente arrasado, sua lei é reduzida em nome da “Propriedade, Família, Religião e Ordem”. Finalmente, a ralé da Sociedade Burguesa constitui a “Sagrada Falange da Ordem Social” e Luís Bonaparte se instala como o “Salvador da Sociedade”. A França escapa do despotismo de uma classe apenas para cair sob o despotismo de um indivíduo sem autoridade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário